Hoje, o aeroporto de Marília foi palco de uma reunião que deixou mais dúvidas do que respostas. O CEO da Concessionária Voa, Marcel Moure Gomes, conhecido por seu passado como assessor do ex-presidente Michel Temer, apresentou um projeto ambicioso que, sob o rótulo de “modernização”, parece ter como foco principal a exploração comercial do espaço. A proposta prevê a construção de empreendimentos imobiliários, como lojas, bares e até mesmo um shopping center. Contudo, quando o assunto é a infraestrutura aeroportuária, as promessas decepcionam: não há previsão de ampliação de voos comerciais, criação de um terminal de cargas — algo essencial, especialmente considerando a instalação de um centro de distribuição do Mercado Livre na cidade — e o terminal de passageiros proposto é insuficiente, oferecendo apenas sete vagas de estacionamento, incluindo as reservadas para idosos e pessoas com deficiência.

Após 75 anos sem grandes modificações no terminal de passageiros, a proposta apresentada não apenas ignora as necessidades atuais, mas pode condenar Marília a mais 75 anos de estagnação. Um terminal que já não atende a demanda existente representa não só um gargalo econômico, mas também uma fonte constante de transtornos para os usuários e um entrave ao desenvolvimento da cidade.

Essa falta de visão para o crescimento econômico de Marília preocupou muitos dos presentes. O que chamou a atenção foi o entusiasmo do recém-eleito prefeito de Marília, Vinícius Camarinha, que não economizou nos aplausos ao projeto. A postura do prefeito levantou questionamentos: estaria a administração pública alinhada a interesses que parecem ignorar as reais necessidades de desenvolvimento econômico e social de Marília?


Marília e seu Potencial Adormecido

Marília, historicamente conhecida como a terra da TAM, já foi referência no setor aéreo. Em 1936, os pioneiros e visionários que projetaram a cidade imaginaram um aeroporto à frente de seu tempo, com duas pistas: uma de 2.000 metros e outra de 1.000 metros. Essa visão ousada simbolizava o progresso e consolidou Marília como uma das cidades mais modernas do Brasil por décadas.

Hoje, no entanto, a realidade é bem diferente. A pista atual tem apenas 1.700 metros e, para piorar, existe o risco de redução de até 300 metros devido à construção de um arranha-céu na Avenida Cascata, que impacta diretamente o circuito de tráfego das aeronaves. Essa situação reflete a falta de planejamento estratégico e uma inversão de prioridades, onde o progresso deu lugar a interesses imobiliários e decisões políticas questionáveis.

A visão dos pioneiros era clara: o progresso. Já a visão dos políticos de hoje parece se limitar à exploração imediatista, muitas vezes ignorando o potencial de crescimento sustentável que Marília poderia alcançar.


O Futuro de Marília em Jogo

Além de prejudicar o setor aéreo, há rumores de que áreas históricas do aeroporto podem ser demolidas para dar lugar aos novos empreendimentos imobiliários. Isso não apenas apaga parte da memória da cidade, mas também compromete sua identidade. Uma infraestrutura aeroportuária moderna e funcional poderia atrair investimentos, fomentar o turismo e posicionar Marília como um importante polo econômico no Brasil e no mundo.

O projeto apresentado pela Voa, no entanto, caminha na contramão desses objetivos. Ele prioriza interesses comerciais de curto prazo em detrimento de um desenvolvimento sustentável e estratégico para a cidade.

A população de Marília precisa refletir sobre o rumo que a cidade está tomando. Vale a pena sacrificar seu patrimônio, história e potencial econômico por projetos que beneficiam apenas uma parcela limitada de interesses? É fundamental que a sociedade civil, líderes políticos e empresariais se mobilizem para discutir alternativas que respeitem o legado da cidade e promovam um futuro próspero para todos.

Marília merece mais do que ser apenas um ponto de exploração imobiliária. Merece um planejamento estratégico que honre seu passado visionário e construa um futuro inovador, sustentável e inclusivo. O futuro da cidade está em nossas mãos — e é nosso dever garantir que ele seja digno do potencial que Marília carrega.

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