A palavra “prioridade” carrega consigo um peso significativo na administração pública, especialmente quando se trata de um novo governo. Priorizar significa escolher o que é mais urgente, mais relevante e, principalmente, o que terá o maior impacto na vida da população. Mas o que acontece quando as prioridades declaradas não condizem com as reais necessidades da cidade?
No último sábado, 04 de janeiro, o prefeito eleito de Marília, Vinícius Camarinha, protagonizou uma cena que chamou a atenção: acompanhado por seu vice-prefeito e vereadores, realizou uma ação simbólica de suspensão temporária do contrato dos radares da cidade, com direito a fotos cortando fios e ampla divulgação nas redes sociais. O gesto, embora chamativo, levanta uma questão fundamental: é essa a prioridade de Marília hoje?
Enquanto a atenção está voltada para os radares, a cidade enfrenta uma crise de saúde pública com o surto de dengue. Hospitais lotados, falta de leitos e, pior ainda, vidas perdidas, evidenciam um problema muito mais urgente que afeta diretamente a qualidade de vida da população.
Os radares são realmente o problema?
Os radares de trânsito têm o objetivo de coibir infrações e promover segurança. Afinal, só é multado quem desrespeita as leis de trânsito. Em um cenário onde acidentes de trânsito são uma das principais causas de mortes evitáveis, a existência desses equipamentos deveria ser avaliada com responsabilidade.
O que torna essa decisão ainda mais polêmica é o fato de que o vice-prefeito e outros vereadores que acompanharam o ato já haviam, em gestões anteriores, votado favoravelmente à instalação dos radares. Isso suscita dúvidas sobre a coerência e as intenções por trás dessa ação. Foi uma medida de interesse público ou apenas uma jogada para conquistar popularidade nos primeiros dias de mandato?
A verdadeira prioridade: salvar vidas
É impossível ignorar o contraste entre o ato simbólico contra os radares e o silêncio (ou a aparente falta de ações robustas) diante da crise de saúde causada pela dengue. Combater o surto deveria ser a prioridade máxima do governo neste momento. Isso envolve campanhas de conscientização, mutirões de limpeza, reforço no atendimento hospitalar e medidas efetivas para eliminar focos do mosquito transmissor.
A pergunta que fica é: o que é mais importante, evitar multas de trânsito ou salvar vidas ameaçadas por uma doença evitável?
A responsabilidade do gestor público
Um gestor público deve sempre atuar de forma estratégica, equilibrando ações de curto prazo que têm apelo popular com políticas de longo prazo que garantam o bem-estar da população. A suspensão dos radares pode até ser popular entre alguns segmentos, mas é uma prioridade real ou apenas um gesto político?
A cidade de Marília, como tantas outras, enfrenta desafios complexos. Priorizar não é apenas escolher o que é mais urgente, mas também agir de forma a resolver os problemas que mais impactam a coletividade. O novo governo ainda tem muito trabalho pela frente para mostrar a que veio – e a população estará atenta, cobrando coerência entre discurso e prática.
Rodrigo Patriota